"(...)
-Sabe garoto, eu já vivi muito. Tive ótimas experiências e algumas, infelizmente, lamentáveis. Mas, nunca me arrependi de ter tentado nada. NADA!
-Sim, eu entendo. - disse o menino enquanto olhava para o céu, parecendo esperar alguma coisa.
Mas, não esperava. Apenas queria chegar logo em casa. As sacolas pesavam e ele sabia que a casa ficava longe dali. Era cada vez mais difícil ser gentil e educado.
-...Mas, oras! Aposto que você não vai querer ouvir as histórias de um velho como eu!
- Não, vovô! Gosto das histórias! - se estava ali, não faria mal algum se distrair com algumas histórias, certo?
Até que para um final de tarde de sábado, a rua estava calma. A primavera estava chegando ao fim e logo esquentaria mais.
Não importava.
Nada importava.
Aquele sentimento nostáugico das férias, das tardes vagueiras, das crianças brincando nas ruas...
Ahh... aquele sentimento...
Não sabia defini-lo, mas, sentia-o, e era isso que importava.
Enquanto voltava para a casa do avô, o garoto percebeu que, talvez um dia, sentiria falta desse sentimento. Sabia, também, que iria sentir falta das conversas com o avô. Assim como aquela que estavam tendo naquele momento.
-... e quando percebi, estava com o pato, a arma e os figos na mão!
- Nossa! Que coisa maluca! Mas, sabe vô, estive pensando enquanto ouvia isso...
- Minha história te fez refletir? Bom, pelo menos para uma coisa ela serviu, já que não conseguiu tirar essas rugas de preocupação do seu rosto!! - sempre conseguia encaixar uma anedota para quebrar um pouco o ar de seriedade de qualquer conversa.
- Bem, estive pensando...
Era meio indecoso falar essas coisas com seu avô afinal, ... bem, ERA SEU AVÔ! Talvez não entendesse aquilo. Poderia, também julgá-lo. Mas, e se já vivera isso? Queria acreditar que seu avó, em algum momento alucinado de sua juventude já distante, já tenha sentido aquilo que estava sentindo. Com essa crença, continuou:
- ... bem, o senhor já passou por... quero dizer, o senhor já viveu muito! Não estou te chamando de velho!!! É que é meio constrangedor pra mim e...bom...
-Calma, lá garoto! Estamos quase chegando em casa. Lá, sentamos com um boa tigela de sorvete de limão e você me conta o que está te deixando assim. Tudo bem pra você?
-Pode ser...
Como recusaria uma 'boa tigela de sorvete de limão'?"
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